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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Predestinação em Efésios


 


INTRODUÇÃO

Estarei trazendo talvez o assunto mais difícil da Teologia Cristã. É um ramo da profunda doutrina dos Decretos de Deus. Está relacionada com todas as outras grandes e fundamentais doutrinas da Revelação Divina, devendo-se dizer o mesmo de qualquer outro assunto da Teologia, visto como esta sublime ciência constitui um todo orgânico harmonioso. A doutrina da Predestinação torna-se difícil de modo especial quando procuramos harmonizar a Soberania de Deus, em escolher pessoas, com a livre vontade e a responsabilidade do homem, em aceitar ou rejeitar seus apelos e convites.A partir do momento em que fazemos isso, criamos muitas dificuldades, pois é impossível o ser humano ter livre arbítrio se ele se encontra morto espiritualmente, incapaz de escolher a Deus.
Estou certo que não vou conseguir esgotar o assunto. Sei que seria impossível trazer tudo o que gostaria de citar, mas pela natureza do trabalho, vou tentar relatar de forma resumida, os conceitos relevantes quanto a  Predestinação e como essa doutrina foi exposta na carta aos Efésios.

1-      OS DECRETOS DE DEUS

Antes de estudarmos a doutrina da Predestinação em Efésios, é indispensável considerar a Doutrina dos Decretos de Deus, desde que a Predestinação, como já  foi dito na introdução, é um ramo dessa importante Doutrina. A relação entre elas é tão íntima que alguns teólogos têm usado a palavra Predestinação “ como equivalente à palavra genérica decreto, incluindo todos os eternos propósitos de Deus”.[1]
Decreto divino é o termo geral, e refere-se ao plano de Deus em toda a criação;.
Dr. A.A. Hodge define esta doutrina com as seguintes palavras:


  O decreto de Deus é o seu eterno , imutável, santo, sábio e soberano propósito que compreende ao mesmo tempo todas as coisas que foram e que hão de ser em suas causas, condições, sucessões e relações, e que determinam o seu futuro. Os vários conteúdos do eterno propósito são denominados decretos, por causa da limitação das nossas faculdades que os concebem em seus aspectos parciais e em suas relações lógicas”. [2]

2-      PREDESTINAÇÃO

2.1 -Definição da doutrina

Predestinação é o Decreto divino com referência aos seres morais  os anjos e os homens.
A CONFISSAÕ DE Fé de Westminster apresenta a doutrina da Predestinação nos seguintes termos:
  Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna, e outros preordenados para a morte eterna”.[3]
João Calvino define a predestinação como segue:

   “Chamamos predestinação ao eterno decreto de Deus, pelo qual determinou em si mesmo o que ele quis que todo indivíduo do gênero humano viesse a ser. Porque eles não são criados todos com o mesmo destino; mas para alguns é preordenada a vida eterna. Portanto, sendo criada cada pessoa para um ou outro destes fins, dizemos que é predestinada ou para vida ou para morte”. [4]


2.2 -Doutrinas que implicam Predestinação

A doutrina da Predestinação está implícita em várias outras doutrinas da Bíblia, de modo que, a se admitirem estas, admitir-se-á aquela. São as seguintes: A doutrina do Pecado Original e Depravação Total, a da Regeneração ou Novo Nascimento, a da Salvação unicamente pela Graça, a da Soberania de Deus e a da Providência .


2.2.1 -A doutrina do Pecado Original e Depravação Total

Cremos que a Bíblia ensina que, pecando Adão, todo o gênero humano pecou nele. Ele era o cabeça de toda raça humana. Trazia em si o germe de Toda a humanidade. Hereditariedade e ativismo confirmam plenamente o ensino das Escrituras a este respeito. È esta a principal razão de crer na teoria do Traducianismo, porque é a única que explica como nos identificamos realmente com todos os ancestrais, inclusive naturalmente nossos primeiros pais. Somos formados da substância dos corpos e das almas de nossos pais, e visto como eles são pecadores, fomos concebidos em pecado. É isto exatamente o que Davi disse quando confessou a Deus seu grande pecado: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”. (SL. 51:5)
O gráfico abaixo é um modelo teológico do homem nos seus quatro estados: o homem no estado de inocência (pré-queda), o homem no estado de escravidão (pós-queda), o homem no estado de graça (homem regenerado) e o homem no estado de glória (na presença de Deus). Antes da Queda, o homem era capaz de pecar e de não pecar. Caído, o homem não regenerado não era capaz de não pecar. Caído, mas regenerado, o homem é capaz de pecar e de não pecar. Glorificado, o homem não é capaz de pecar. Tanto a fé como os desejos de obediência brotam da nossa nova natureza, não da vontade do homem natural (João 1:13, Romanos 9:16, 1 Coríntios 2:14, João 6:63-65).



Estado do Homem na História
Moralmente Capaz de Fazer
Inclinado por Natureza para o
BEM
MAL
BEM
MAL
Criado
sim
sim
não
não
Caído
não
sim
não
sim
Redimido
sim
sim
sim
não
Glorificado
sim
não
sim 
não



2.2.2 -A Doutrina da Regeneração ou Novo Nascimento

A Doutrina da Regeneração é conseqüência natural e lógica da Doutrina do pecado original e da Depravação Total. Se o homem herdou uma natureza que é completamente adversa a Deus e aos seus valores espirituais, natureza que ele cada dia torna ainda mais avessa a Deus por meio de atos e hábitos pecaminosos; noutras palavras, se o homem está “morto em delitos e pecados”, não pode ter vida espiritual, não pode amar a Deus e ao seu próximo, em sentido espiritual, até o dia em que Deus cria nele um novo coração.
Esta doutrina da regeneração foi ensinada especialmente por Jesus Cristo e pelos escritores do Novo Testamento. Mas não é uma Doutrina nova. Vemo-la ensinadas através do Velho Testamento. O rito da circuncisão era um símbolo desta transformação espiritual. “Circuncidai, pois, o vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz”
(Deut. 10:16). O grande erro dos Judeus foi suporem que, pelo fato de descenderem de Abraão segundo a carne, eram verdadeiros filhos e herdeiros do reino. Seu erro era pensarem que, visto que tinham o símbolo externo do Concerto, a saber, a circuncisão, tinham igualmente o direito de entrar no Reino como estavam.
Esta doutrina da regeneração é apresentada na Bíblia sob várias figuras, que mostram que Deus é o seu agente exclusivo. É verdade que, em conseqüência do ato de Deus que o regenera, o homem o segue no que chamamos de conversão. Mas é Deus que muda as disposições dominantes de nossas almas, dando-lhes nova vida. Esta vida nova manifesta-se imediatamente, em seguir a Deus e a tudo que Ele representa.

2.2.3 -A Doutrina da Salvação só pela Graça.

Cada membro da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - participa e contribui para a salvação de pecadores. O Pai, antes da fundação do mundo, escolheu aqueles que iriam ser salvos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo. Na época oportuna o Filho veio ao mundo e assegurou a redenção desse povo. Mas esses dois grandes atos - a eleição e a redenção - não completam a obra da salvação, pois está incluída no plano divino para a recuperação do pecador perdido a obra renovadora do Espírito Santo, pela qual os benefícios da obediência e da morte de Cristo são aplicados ao eleito. A doutrina da Graça Irresistível ou Eficaz está relacionada com essa fase da Salvação. Declarada de modo simples, esta doutrina afirma que o Espírito Santo nunca falha em trazer à salvação aqueles pecadores que Ele pessoalmente chama a Cristo. Ele aplica inevitavelmente a salvação a todo pecador que Ele tencionou salvar, e é Sua intenção salvar todos os eleitos.
O apelo do evangelho estende uma chamada à salvação a todo que ouve a mensagem. Ele convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água da vida e viver. Ele promete salvação a todo que se arrepender e crer. Mas essa chamada geral externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não trará pecadores a Cristo. Por que? Porque os homens estão, por natureza, mortos em pecado e debaixo de seu poder. Eles são, por si mesmos, incapazes de abandonar os seus maus caminhos e se voltarem a Cristo, para receber misericórdia. Nem podem e nem querem fazer isso. Conseqüentemente, o não regenerado não vai responder à chamada do evangelho para arrepender-se e crer. Nenhuma quantidade de ameaças ou promessas externas fará um pecador cego, surdo, morto e rebelde se curvar perante Cristo como Senhor e olhar somente para Ele para a salvação. Tal ato de fé e submissão é contrário à natureza do homem perdido.
Por isso, o Espírito Santo, para trazer o eleito de Deus à salvação, estende-lhe uma chamada especial interna em adição à chamada externa contida na mensagem do evangelho. Através dessa chamada especial, o Espírito Santo realiza uma obra de Graça no pecador que, inevitavelmente, o traz à fé em Cristo. A mudança interna operada no pecador eleito o capacita a entender e crer na verdade espiritual.
No campo espiritual, são lhe dados olhos para ver e ouvidos para ouvir. O Espírito cria nele um novo coração e uma nova natureza. Isto é realizado através da regeneração (novo nascimento), pela qual o pecador é feito filho de Deus e recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada através desse processo, de forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo por sua própria e livre escolha. Pelo fato de receber uma nova natureza que o habilita a amar a retidão, e porque sua mente é iluminada de .forma a habilitá-lo a entender e crer no evangelho, o pecador renovado (regenerado) volta-se para Cristo, livre e voluntariamente, como seu Senhor e Salvador. Assim, o pecador que antes estava morto, é atraído a Cristo pela chamada interna e sobrenatural do Espírito, a qual, através da regeneração, o vivifica e cria nele a fé e o arrependimento.
Embora a chamada externa do evangelho possa ser, e freqüentemente é, rejeitada, a chamada interna e especial do Espírito nunca deixa de produzir a conversão daqueles a quem ela é feita. Essa chamada especial não é feita a todos os pecadores, mas é estendida somente aos eleitos. O Espírito não depende em nenhuma maneira da ajuda ou cooperação do pecador para ter sucesso em Sua obra de trazê-lo a Cristo. É por essa razão que os calvinistas falam da chamada do Espírito e da graça de Deus em salvar pecadores como sendo "eficaz", "invencível" ou "irresistível". A graça que o Espírito Santo estende ao eleito não pode ser obstada, nem recusada; ela nunca falha em trazê-lo à verdadeira fé em Cristo.

2.2.4 -A doutrina da Soberania de Deus

Podemos provar a Soberania  Deus na salvação pelas doutrinas da depravação total e do novo nascimento, que já consideramos. Visto como Deus é Soberano, Ele tem poder tanto para não criar, como para criar. E uma vez que o homem está morto em delitos e pecados e Deus tem poder para criar ou para não criar, a re-criação do homem depende completamente da Soberania e da Misericórdia divina.
Se Deus tivesse de escolher os homens por causa de alguma coisa neles, dependeria de suas criaturas e, assim não seria Soberano.Os que são condenados, o são por causa de seus próprios pecados, e Deus, em condena-los, é apenas justo. Os que são salvos, entretanto, o são porque “isto pareceu bem” aos olhos de Deus.

2.2.5 -A Doutrina da Providência de Deus

Outra doutrina que implica Predestinação é a da providência. É a providência de Deus que determina todas as circunstâncias e o curso de nossa vida. O que para nós é casual, para Deus não é. É a providência de Deus que determina onde, quando e como cada um de nós nasce, vive e morre. É sua providência que decide se um homem há de nascer  num país pagão, ou cristão. Estas circunstancias  providenciais, que Deus cria na vida dos homens, decidem do seu futuro eterno de milhões de membros da raça humana.


2.3 -O conceito Predestinação e  Eleição no Antigo Testamento

É interessante observarmos o conceito de Predestinação e Eleição no Antigo Testamento para tentarmos entender mais sobre esse assunto. Em Efésios 1:4 aparece a palavra exelexato (Elegeu) . A primeira coisa a ser notada na LXX é que o sub. Gr. ekloge falta completamente. Isto porque não há palavra heb. Para ser por ele traduzido, pois, de modo geral, os conceitos abstratos são estranhos à língua hebraica. O fato de que somente formas verbais são achadas, automaticamente resulta na ênfase dada, não tanto a própria ação, mas à pessoa que escolhe e quem é escolhido em cada caso. A forma at. Eklego, que tem o mesmo significado e sintaxe, ocorre somente 10 vezes, nos livros dos Reis e Cr., eklegomai, quase sempre traduz formas do vb. Heb. Bahar, “escolher”, “selecionar”, “preferir”.
Bahar, no entanto, tem aproximadamente o mesmo alcance de sentidos que o vb. Gr. Por exemplo, em Is 40:20 descreve a escolha de matéria apropriada ( madeira para um ídolo); em Gn 6:2, a escolha bem considerada de uma esposa, motivada ao mesmo tempo pelo gosto e pelo desejo; em Gn 13:11, a escolha que Ló fez da parte da terra que lhe parecia mais favorável. Em Pv, o nif. Emprega-se para retratar um objeto como especialmente desejável em comparação com outro.
Na maioria dos casos onde se acha bahar ( e, portanto, eklegomai), não é o homem que faz a escolha, e sim, Deus. Javé é o sujeito. Aquele que escolhe. Esta verdade se ressalta especialmente em Dt, Sm, Rs, e Cr, alguns dos Sl e Is.
Lemos, por exemplo, que Deus escolheu Abraão e sua descendência para abençoa-los e deles fazer uma benção para todas as nações (Gn 12-1-3).Há muitas passagens em que Israel é chamado povo escolhido: “O Senhor Teu Deus te escolheu, para que fosses o seu próprio povo, de todos os povos que há sobre a terra” ( Deut. 7:6). “ Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolhe para sua herança” (Sl. 33:12).
Já quanto a palavra Predestinação, podemos observar no verso 5 de Efésios a palavra proorisaV. No Antigo Testamento o composto phohorizo (formado de pro, defronte”, “antes de” e horizo, “ordenar”, “determinar” emprega-se apenas no século IV a.C. em diante e significa “preordenar”. Não é usado na LXX.

3 -A Predestinação em Efésios

Agora quero me deter um pouco no texto que irei trabalhar quanto à Predestinação. É interessante a maneira como o Apóstolo Paulo apresenta essa Doutrina logo no inicio da carta aos Efésios:
Efésios 1:1-14
 1  “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus”,
 2  graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
 3 ¶ Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
 4  assim como nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
 5  nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
 6  para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado,
 7  no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,
 8  que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,
 9  desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,
 10  de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;
 11  nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,
 12  a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo;
 13  em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;
 14  o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”
Eu gostaria de destacar alguns pontos importantes quanto a esse texto que iremos estudar .
No verso 4  João Calvino Comenta: 

    O apóstolo declara que a Eterna eleição divina é o fundamento e causa primeira, tanto de nosso chamamento como de todos os benefícios que de Deus recebemos. Se nos pede a razão pó que Deus nos chamou  a participar do Evangelho, por que diariamente ele nos concede bênçãos em grande profusão, por que ele nos abre os portões celestiais, teremos sempre que retroceder a este princípio, ou seja; que Deus nos elegeu antes que o mundo viesse à existência. O próprio tempo da eleição revela que ela é gratuita; pois, o que poderíamos merecer, ou em que consistiria o nosso mérito, antes que o mundo fosse criado? Pois quão pueril é o raciocínio sofístico, o qual afirma que não fomos eleitos porque já éramos dignos. Todos nós estávamos perdidos em Adão; portanto, Deus não poderia ter-nos salvo de perecermos por meio de sua própria eleição, se não havia nada para ser previsto. O mesmo argumento é usado em Romanos, onde, ao falar de Jacó e Esaú, diz ele: “ E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou mal” (Romanos 9:11).” [5] 

Como a Eleição e a Predestinação se completam , precisamos entender um pouco mais sobre a Eleição  :

1-  Seu Autor : O autor é “O Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Versículo 3). Certamente que isto de modo algum invalida o fato de que todas as atividades que afetam as relações extratrínitárias podem ser atribuídas ao Pai, Filho e Espírito Santo. Não obstante, conforme demonstrado aqui, é o Pai que tem a liderança na obra Divina da eleição.

2-  Sua Natureza: Embora a passagem mesma não indique de forma definida a massa de objetos ou indivíduos dentre os quais o Pai elegeu alguns, não obstante este imenso grupo fica definido claramente por meio da clausula que denota propósito: “ para que fossemos santos e irrepreensíveis perante ele”. Conseqüentemente, a imensa massa  de indivíduos, dentre os quais o Pai elegeu alguns, é considerada aqui como destituída de santidade e como sendo desprezível. Ele quer dizer: nós, que somos completamente indignos aos seus olhos! Ele nem tenta explicar como foi possível Deus fazer isto. Apenas compreende que quando os homens são confrontados com a manifestação da espantosa graça divina, a única resposta justificável é adoração, e não explicação.


3-  O seu objeto: O Objeto somos “nós”, não a humanidade toda. O pronome “nós” deve ser entendido à luz do contexto. Paulo está escrevendo “aos santos e crentes” (v.1). Ele diz que o pai “nos” tem abençoado, isto é, “aos santos e crentes” (aqui com especial referência aos de Êfeso), inclusive Paulo (v3). Portanto, quando o Apostolo prossegue, dizendo: “assim como nos elegeu” este “nos” não pode ser repentinamente referir-se a todos os homens sem distinção, senão que deve referir-se necessariamente a todos aqueles que são (os que foram destinados para que em algum tempo da história do mundo se tornassem) “santos e crentes”, ou seja, a todos os que, tendo sido separados pelo Senhor com o propósito de glorificá-lo, o abracem por meio de uma fé viva.

4-  Seu Fundamento: O fundamento da Igreja , de sua plena salvação do princípio ao fim, conseqüentemente também de sua eleição, é Cristo. Paulo diz: “Ele (‘o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo’) nos elegeu nele”. A conexão entre os vv. 3 e 4 depende desta frase. Poderíamos dizer esta idéia a lume com a seguinte tradução: “Deus o Pai nos abençoou com toda benção espiritual em Cristo, assim como ele nos elegeu...” Em outras palavras: no tempo o Pai nos abençoou em Cristo assim como nos elegeu nele (em Cristo) desde toda eternidade.


5-  Seu tempo: Diz-se que esta eleição ocorreu “antes da fundação do mundo”, ou seja, “desde a eternidade”. Além disso, uma vez que ela ocorreu “nele” tudo se nos afigura de maneira razoável, porquanto Ele é aquele cujo “precioso sangue, como de um Cordeiro sem defeito e sem mácula, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo...” ( I Pe 1:19,20).

6-  Seu Propósito: O propósito da eleição é encontrado nas palavras para que fossemos santos e irrepreensíveis perante ele. É digno de especial consideração que Paulo não diz: “O Pai nos elegeu porque previu que iríamos ser santos”.

 João Calvino comenta o versículo 5:

   Que nos Predestinou. O que vem a seguir salienta ainda mais a sublimidade da Graça divina. Já mencionamos a razão por que o Apóstolo inculcou tão energicamente nos efésios Cristo e a adoção gratuita nele, bem como a eterna eleição que a precedeu. Como a misericórdia de Deus, porém, em nenhum outro lugar é expressa de forma mais sublime, esta passagem merece nossa especial atenção. Nesta cláusula são mencionadas três causas de nossa salvação, e uma quarta é acrescentada logo a seguir. A causa eficiente é o beneplácito da vontade de Deus; a causa material é Cristo; e a causa final é o louvor de sua Graça. À primeira pertence todo este contexto: Deus nos predestinou nele mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para adoção, e nos fez aceitos por meio de sua graça.
No verbo predestinar devemos novamente atentar para a ordem. Nem mesmo existíamos, portanto não existia nenhum mérito propriamente nosso. Conseqüentemente, a causa de nossa salvação não procedeu de nós mesmos, e sim, tão somente de Deus. Paulo , todavia ainda não satisfeito com essas afirmações, acrescenta: nele mesmo. Com isso ele está dizendo que Deus não buscou uma causa fora de si próprio, senão que nos predestinou porque ele assim o quis. O que se segue, porém, é ainda mais claro: segundo o beneplácito de sua vontade. A palavra vontade seria suficiente, pois  o apóstolo estava acostumado a contrastá-la com todas as causas externas pelas quais o homem imagina que a mente de Deus é passível de receber influência. Todavia, para que não permaneça qualquer ambigüidade, ele usa o contraste “beneplácito”, o que expressamente exclui todo e qualquer mérito.Portanto, ao adotar-nos, O Senhor não levou em conta o que somos, e não nos reconciliou consigo mesmo com base em alguma dignidade que porventura tivéssemos.
Finalmente, a fim de que nada mais ficasse faltando, ele acrescenta: ecaritwsen en cariti. Com isso ele nos afiança que Deus nos envolve graciosamente em seu amor e favor, não com base em retribuição meritória, senão que Ele nos elegeu quando nem ainda tínhamos nascido, quando nada o motivara senão ele próprio”.[6]  
Uma definição mais ampla da eleição, mostrando a forma que ela toma, se encontra nas palavras: E em amor nos predestinou para a adoção de filhos. Esta predestinação não deve ser considerada como uma atividade Divina anterior à Eleição. È sinônimo desta última, uma elucidação adicional de seu propósito. O Pai é descrito como tendo prefixado  o horizonte   ou pré-circunscrito seus eleitos. Em seu ilimitado amor, nada fora de si mesmo que o movesse, Ele o separou para serem seus próprios filhos. “Como em redor de Jerusalém estão montes, assim o Senhor em derredor de seu povo, desde agora e para sempre” (Sl 125:2). Ele os destinou para que fossem membros de sua própria família (Rm 8:15; Gl 4:5) é quase de balde sair em busca de analogias humanas, por quanto a adoção de que Paulo fala vai além de qualquer ato humano. Ela outorga aos seus recipientes não apenas um novo nome, um novo status legal e uma nova relação familiar, mas também uma nova imagem, a imagem de Cristo (Rm 8:29). O pai terreno pode amar muito a um filho adotivo. Entretanto, eles são incapazes de outorgar o seu espírito ao filho. Eles não têm controle sobre os fatores hereditários. Quando Deus adota, Ele outorga o seu Espírito! Esta adoção é por meio de Jesus Cristo para si mesmo.

  Gostaria de encerrar essa monografia  com as palavras de Spurgeon, o grande pregador inglês:

   Penso que, para uma pessoa piedosa, a eleição é a doutrina que mais humilha, de quantos há no mundo _ por afastar toda confiança na carne, ou todo apoio em qualquer coisa, exceto Jesus Cristo. Quantas vezes não nos revestimos de nossa justiça própria e nos enfeitamos com as falsas pérolas e jóias de nossas obras e empreendimentos. Começamos a dizer, Agora, sim, serei salvo, porque tenho esta e aquela evidência”. Em lugar disso, é uma fé simples, desnuda, que salva. Somente essa fé nos une ao Cordeiro, independentemente de obras, embora seja a fé o que produz tais obras. Quantas vezes nos apoiamos em alguma obra, que não é a do nosso Amado, e confiamos em algum poder, que não vem de cima. Se quisermos que tal poder nos seja tirado, consideremos a eleição. Detém-te, ó minha alma, e considera isto. Deus te amou antes que viesses a existir. Amou-te quando estavas morta em delitos e pecados, e enviou seu Filho para morrer por ti. Comprou-te com o seu precioso sangue, antes que pudesses balbuciar seu nome. Podes, pois, envaidecer-te com alguma coisa?

   “Não sei de nada que mais nos humilhe do que esta doutrina da eleição. Algumas vezes, procurando entendê-la, tenho-me prostrado diante dela. Tenho aberto as asas e à maneira  das águias, tenho alcançado o voou na direção ao sol. Meus olhos têm-se fixado nele, minhas asas não me têm falhado, por certo tempo. Mas, ao aproximar-se dele, e, só pensando nisto_ “Desde o principio Deus vos escolheu para a salvação” _ vir-me ofuscado pelo seu fulgor e cambaleante sob a força desse poderoso pensamento. E dessa elevação estonteante abateu-se a alma, a dizer prostrada e aniquilada, “Senhor, não sou nada, sou menos que nada. Por que escolheste a mim? A mim?
Amigos, se vocês querem ficar humildes, estudem a eleição, pois ela os fará assim, sob a influência do Espírito Santo de Deus. Quem se orgulha de sua eleição, esse não foi eleito. E que se humilha por considera-la, esse pode crer que foi eleito. Têm toda a razão de crer que o foi, visto como um dos mais benditos perante Deus”.[7]
    

4 -Conclusão

Eu creio que é bem mais provável que um pecador creia e se arrependa, se a fé e o arrependimento dependerem inteiramente do poder regenerador do Espírito Santo, do que se dependerem em parte da força de vontade desse pecador.
A Doutrina da Predestinação é totalmente bíblica, e  o fato dela apresentar a Deus como Soberano que salva somente seus eleitos, não diminui Deus e nem traz nenhum mérito aos eleitos. A Graça de Deus é suficiente para todos, mas não é eficiente em todos. Não sabemos qual foi o critério que Deus utilizou para escolher pessoas, mas sabemos que Ele não encontrou nada de bom neles.
É importante destacar que nós não sabemos quem são os predestinados que Deus escolheu. Por isso, devemos pregar o Evangelho a toda a criatura, pois cabe ao Espírito Santo convencer o pecador e trazê-los para juntos de Deus.


Referências Bibliográficas

FALCÃO, Rev. Samuel. Predestinação Tese apresentada ao “ Union Theological Seminary”, Richmond, Va., E.U.A em abril de 1947. Editora casa Editora Presbiteriana

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento Efésios, Trad. Valter Graciano Martins 1º edição Ed. E.C.P

CALVINO, João , Comentário de Efésios, Trad. Valter Graciano Martins 1º Edição Ed. Paracletos, 1998.

BROWN, Lothar C. Colin, Dicionário Internacional de Teologia Do Novo Testamento, Vol 1,2 Trad. Gordon Chown Edit. Vida Nova. 2º edição 2004.

WWW. Monergismo.com.Br.  Acessado dia 09/12/04 Predestinação

















[1] Samuel Falcão, Predestinação, Pg 27
[2] Samuel Falcão, Predestinação, Pg 27
[3] Confissão de Fé, Cap. III, § 3.
[4] João Calvino, op. Cit., Livro III, Cap. XXI, § 5
[5] J. Calvino, Comentário de Efésios, Pág. 24
[6] J. Calvino, Comentário de Efésios, Págs. 27,28
[7] Samuel Falcão, Predestinação, Pgs. 192,193

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