INTRODUÇÃO
Estarei
trazendo talvez o assunto mais difícil da Teologia Cristã. É um ramo da
profunda doutrina dos Decretos de Deus. Está relacionada com todas as outras
grandes e fundamentais doutrinas da Revelação Divina, devendo-se dizer o mesmo
de qualquer outro assunto da Teologia, visto como esta sublime ciência
constitui um todo orgânico harmonioso. A doutrina da Predestinação torna-se
difícil de modo especial quando procuramos harmonizar a Soberania de Deus, em
escolher pessoas, com a livre vontade e a responsabilidade do homem, em aceitar
ou rejeitar seus apelos e convites.A partir do momento em que fazemos isso,
criamos muitas dificuldades, pois é impossível o ser humano ter livre arbítrio
se ele se encontra morto espiritualmente, incapaz de escolher a Deus.
Estou
certo que não vou conseguir esgotar o assunto. Sei que seria impossível trazer
tudo o que gostaria de citar, mas pela natureza do trabalho, vou tentar relatar
de forma resumida, os conceitos relevantes quanto a Predestinação e como essa doutrina foi exposta na carta aos
Efésios.
1- OS
DECRETOS DE DEUS
Antes
de estudarmos a doutrina da Predestinação em Efésios, é indispensável
considerar a Doutrina dos Decretos de Deus, desde que a Predestinação, como
já foi dito na introdução, é um ramo
dessa importante Doutrina. A relação entre elas é tão íntima que alguns
teólogos têm usado a palavra Predestinação “ como equivalente à palavra
genérica decreto, incluindo todos os eternos propósitos de Deus”.[1]
Decreto
divino é o termo geral, e refere-se ao plano de Deus em toda a criação;.
Dr.
A.A. Hodge define esta doutrina com as seguintes palavras:
“O decreto de Deus é o seu eterno ,
imutável, santo, sábio e soberano propósito que compreende ao mesmo tempo todas
as coisas que foram e que hão de ser em suas causas, condições, sucessões e
relações, e que determinam o seu futuro. Os vários conteúdos do eterno
propósito são denominados decretos, por causa da limitação das nossas
faculdades que os concebem em seus aspectos parciais e em suas relações lógicas”.
[2]
2- PREDESTINAÇÃO
2.1 -Definição
da doutrina
Predestinação
é o Decreto divino com referência aos seres morais os anjos e os homens.
A
CONFISSAÕ DE Fé de Westminster apresenta a doutrina da Predestinação nos
seguintes termos:
“Pelo decreto de Deus e para manifestação
da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida
eterna, e outros preordenados para a morte eterna”.[3]
João
Calvino define a predestinação como segue:
“Chamamos predestinação ao eterno decreto
de Deus, pelo qual determinou em si mesmo o que ele quis que todo indivíduo do
gênero humano viesse a ser. Porque eles não são criados todos com o mesmo
destino; mas para alguns é preordenada a vida eterna. Portanto, sendo criada
cada pessoa para um ou outro destes fins, dizemos que é predestinada ou para
vida ou para morte”. [4]
2.2 -Doutrinas que implicam Predestinação
A
doutrina da Predestinação está implícita em várias outras doutrinas da Bíblia,
de modo que, a se admitirem estas, admitir-se-á aquela. São as seguintes: A
doutrina do Pecado Original e Depravação Total, a da Regeneração ou Novo
Nascimento, a da Salvação unicamente pela Graça, a da Soberania de Deus e a da
Providência .
2.2.1 -A doutrina do
Pecado Original e Depravação Total
Cremos
que a Bíblia ensina que, pecando Adão, todo o gênero humano pecou nele. Ele era
o cabeça de toda raça humana. Trazia em si o germe de Toda a humanidade.
Hereditariedade e ativismo confirmam plenamente o ensino das Escrituras a este
respeito. È esta a principal razão de crer na teoria do Traducianismo, porque é
a única que explica como nos identificamos realmente com todos os ancestrais,
inclusive naturalmente nossos primeiros pais. Somos formados da substância dos
corpos e das almas de nossos pais, e visto como eles são pecadores, fomos
concebidos em pecado. É isto exatamente o que Davi disse quando confessou a
Deus seu grande pecado: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me
concebeu minha mãe”. (SL. 51:5)
O
gráfico abaixo é um modelo teológico do homem nos seus quatro estados: o homem
no estado de inocência (pré-queda), o homem no estado de
escravidão (pós-queda), o homem no estado de graça (homem
regenerado) e o homem no estado de glória (na presença de Deus).
Antes da Queda, o homem era capaz de pecar e de não pecar. Caído, o homem não
regenerado não era capaz de não pecar. Caído, mas regenerado, o homem é capaz
de pecar e de não pecar. Glorificado, o homem não é capaz de pecar. Tanto a fé
como os desejos de obediência brotam da nossa nova natureza, não da vontade do
homem natural (João 1:13, Romanos 9:16, 1 Coríntios 2:14, João 6:63-65).
Estado do Homem na
História
|
Moralmente Capaz de Fazer
|
Inclinado por Natureza
para o
|
||
BEM
|
MAL
|
BEM
|
MAL
|
|
Criado
|
sim
|
sim
|
não
|
não
|
Caído
|
não
|
sim
|
não
|
sim
|
Redimido
|
sim
|
sim
|
sim
|
não
|
Glorificado
|
sim
|
não
|
sim
|
não
|
2.2.2 -A Doutrina da
Regeneração ou Novo Nascimento
A
Doutrina da Regeneração é conseqüência natural e lógica da Doutrina do pecado
original e da Depravação Total. Se o homem herdou uma natureza que é
completamente adversa a Deus e aos seus valores espirituais, natureza que ele
cada dia torna ainda mais avessa a Deus por meio de atos e hábitos pecaminosos;
noutras palavras, se o homem está “morto em delitos e pecados”, não pode
ter vida espiritual, não pode amar a Deus e ao seu próximo, em sentido
espiritual, até o dia em que Deus cria nele um novo coração.
Esta
doutrina da regeneração foi ensinada especialmente por Jesus Cristo e pelos
escritores do Novo Testamento. Mas não é uma Doutrina nova. Vemo-la ensinadas
através do Velho Testamento. O rito da circuncisão era um símbolo desta
transformação espiritual. “Circuncidai, pois, o vosso coração, e não mais
endureçais a vossa cerviz”
(Deut.
10:16). O grande erro dos Judeus foi suporem que, pelo fato de descenderem
de Abraão segundo a carne, eram verdadeiros filhos e herdeiros do reino. Seu
erro era pensarem que, visto que tinham o símbolo externo do Concerto, a saber,
a circuncisão, tinham igualmente o direito de entrar no Reino como estavam.
Esta
doutrina da regeneração é apresentada na Bíblia sob várias figuras, que mostram
que Deus é o seu agente exclusivo. É verdade que, em conseqüência do ato de
Deus que o regenera, o homem o segue no que chamamos de conversão. Mas é Deus
que muda as disposições dominantes de nossas almas, dando-lhes nova vida. Esta
vida nova manifesta-se imediatamente, em seguir a Deus e a tudo que Ele
representa.
2.2.3 -A Doutrina da
Salvação só pela Graça.
Cada
membro da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - participa e contribui para a
salvação de pecadores. O Pai, antes da fundação do mundo, escolheu aqueles que
iriam ser salvos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo. Na época oportuna o
Filho veio ao mundo e assegurou a redenção desse povo. Mas esses dois grandes
atos - a eleição e a redenção - não completam a obra da salvação, pois está
incluída no plano divino para a recuperação do pecador perdido a obra
renovadora do Espírito Santo, pela qual os benefícios da obediência e da morte
de Cristo são aplicados ao eleito. A doutrina da Graça Irresistível ou Eficaz
está relacionada com essa fase da Salvação. Declarada de modo simples, esta
doutrina afirma que o Espírito Santo nunca falha em trazer à salvação aqueles
pecadores que Ele pessoalmente chama a Cristo. Ele aplica inevitavelmente a
salvação a todo pecador que Ele tencionou salvar, e é Sua intenção salvar todos
os eleitos.
O apelo
do evangelho estende uma chamada à salvação a todo que ouve a mensagem. Ele
convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água da vida e viver. Ele
promete salvação a todo que se arrepender e crer. Mas essa chamada geral
externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não trará pecadores a
Cristo. Por que? Porque os homens estão, por natureza, mortos em pecado e
debaixo de seu poder. Eles são, por si mesmos, incapazes de abandonar os seus
maus caminhos e se voltarem a Cristo, para receber misericórdia. Nem podem e
nem querem fazer isso. Conseqüentemente, o não regenerado não vai responder à
chamada do evangelho para arrepender-se e crer. Nenhuma quantidade de ameaças
ou promessas externas fará um pecador cego, surdo, morto e rebelde se curvar
perante Cristo como Senhor e olhar somente para Ele para a salvação. Tal ato de
fé e submissão é contrário à natureza do homem perdido.
Por
isso, o Espírito Santo, para trazer
o eleito de Deus à salvação, estende-lhe uma chamada especial interna
em adição à chamada externa contida na mensagem do evangelho. Através dessa
chamada especial, o Espírito Santo realiza uma obra de Graça no pecador que,
inevitavelmente, o traz à fé em Cristo. A mudança interna operada no pecador
eleito o capacita a entender e crer na verdade espiritual.
No
campo espiritual, são lhe dados olhos para ver e ouvidos para ouvir. O Espírito
cria nele um novo coração e uma nova natureza. Isto é realizado através da
regeneração (novo nascimento), pela qual o pecador é feito filho de Deus e
recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada através desse processo, de
forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo por sua própria e livre
escolha. Pelo fato de receber uma nova natureza que o habilita a amar a
retidão, e porque sua mente é iluminada de .forma a habilitá-lo a entender e
crer no evangelho, o pecador renovado (regenerado) volta-se para Cristo, livre
e voluntariamente, como seu Senhor e Salvador. Assim, o pecador que antes
estava morto, é atraído a Cristo pela chamada interna e sobrenatural do
Espírito, a qual, através da regeneração, o vivifica e cria nele a fé e o arrependimento.
Embora
a chamada externa do evangelho possa ser, e freqüentemente é, rejeitada, a
chamada interna e especial do Espírito nunca deixa de produzir a conversão
daqueles a quem ela é feita. Essa chamada especial não é feita a todos os
pecadores, mas é estendida somente aos eleitos. O Espírito não depende em
nenhuma maneira da ajuda ou cooperação do pecador para ter sucesso em Sua obra
de trazê-lo a Cristo. É por essa razão que os calvinistas falam da chamada do
Espírito e da graça de Deus em salvar pecadores como sendo "eficaz",
"invencível" ou "irresistível". A graça que o Espírito
Santo estende ao eleito não pode ser obstada, nem recusada; ela nunca falha em
trazê-lo à verdadeira fé em Cristo.
2.2.4 -A doutrina da
Soberania de Deus
Podemos
provar a Soberania Deus na salvação
pelas doutrinas da depravação total e do novo nascimento, que já consideramos.
Visto como Deus é Soberano, Ele tem poder tanto para não criar, como para
criar. E uma vez que o homem está morto em delitos e pecados e Deus tem poder
para criar ou para não criar, a re-criação do homem depende completamente da
Soberania e da Misericórdia divina.
Se Deus
tivesse de escolher os homens por causa de alguma coisa neles, dependeria de
suas criaturas e, assim não seria Soberano.Os que são condenados, o são por
causa de seus próprios pecados, e Deus, em condena-los, é apenas justo. Os que
são salvos, entretanto, o são porque “isto pareceu bem” aos olhos de Deus.
2.2.5 -A Doutrina da
Providência de Deus
Outra
doutrina que implica Predestinação é a da providência. É a providência de Deus
que determina todas as circunstâncias e o curso de nossa vida. O que para nós é
casual, para Deus não é. É a providência de Deus que determina onde, quando e
como cada um de nós nasce, vive e morre. É sua providência que decide se um
homem há de nascer num país pagão, ou
cristão. Estas circunstancias
providenciais, que Deus cria na vida dos homens, decidem do seu futuro
eterno de milhões de membros da raça humana.
2.3 -O conceito
Predestinação e Eleição no Antigo
Testamento
É
interessante observarmos o conceito de Predestinação e Eleição no Antigo
Testamento para tentarmos entender mais sobre esse assunto. Em Efésios 1:4
aparece a palavra exelexato (Elegeu)
. A primeira coisa a ser notada na LXX
é que o sub. Gr. ekloge falta completamente. Isto porque não há palavra heb.
Para ser por ele traduzido, pois, de modo geral, os conceitos abstratos são
estranhos à língua hebraica. O fato de que somente formas verbais são achadas,
automaticamente resulta na ênfase dada, não tanto a própria ação, mas à pessoa
que escolhe e quem é escolhido em cada caso. A forma at. Eklego, que tem o
mesmo significado e sintaxe, ocorre somente 10 vezes, nos livros dos Reis e
Cr., eklegomai, quase sempre traduz formas do vb. Heb. Bahar, “escolher”,
“selecionar”, “preferir”.
Bahar,
no entanto, tem aproximadamente o mesmo alcance de sentidos que o vb. Gr. Por
exemplo, em Is 40:20 descreve a escolha de matéria apropriada ( madeira
para um ídolo); em Gn 6:2, a escolha bem considerada de uma esposa,
motivada ao mesmo tempo pelo gosto e pelo desejo; em Gn 13:11, a escolha
que Ló fez da parte da terra que lhe parecia mais favorável. Em Pv, o nif.
Emprega-se para retratar um objeto como especialmente desejável em comparação
com outro.
Na
maioria dos casos onde se acha bahar ( e, portanto, eklegomai), não é o homem
que faz a escolha, e sim, Deus. Javé é o sujeito. Aquele que escolhe. Esta
verdade se ressalta especialmente em Dt, Sm, Rs, e Cr, alguns dos Sl e Is.
Lemos,
por exemplo, que Deus escolheu Abraão e sua descendência para abençoa-los e
deles fazer uma benção para todas as nações (Gn 12-1-3).Há muitas
passagens em que Israel é chamado povo escolhido: “O Senhor Teu Deus te escolheu,
para que fosses o seu próprio povo, de todos os povos que há sobre a terra”
( Deut. 7:6). “ Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele
escolhe para sua herança” (Sl. 33:12).
Já
quanto a palavra Predestinação, podemos observar no verso 5 de Efésios a
palavra proorisaV. No Antigo Testamento o
composto phohorizo (formado de pro, defronte”, “antes de” e horizo, “ordenar”,
“determinar” emprega-se apenas no século IV a.C. em diante e significa
“preordenar”. Não é usado na LXX.
3 -A
Predestinação em Efésios
Agora
quero me deter um pouco no texto que irei trabalhar quanto à Predestinação. É
interessante a maneira como o Apóstolo Paulo apresenta essa Doutrina logo no
inicio da carta aos Efésios:
Efésios 1:1-14
1
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que
vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus”,
2
graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus
Cristo.
3 ¶ Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo,
4
assim como nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de
Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
6
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente
no Amado,
7
no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça,
8 que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e
prudência,
9 desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito que propusera em Cristo,
10
de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas
as coisas, tanto as do céu, como as da terra;
11
nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o
propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,
12
a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão
esperamos em Cristo;
13
em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o
Santo Espírito da promessa;
14
o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade,
em louvor da sua glória.”
Eu
gostaria de destacar alguns pontos importantes quanto a esse texto que iremos
estudar .
No
verso 4 João Calvino Comenta:
“O apóstolo declara que a Eterna
eleição divina é o fundamento e causa primeira, tanto de nosso chamamento como
de todos os benefícios que de Deus recebemos. Se nos pede a razão pó que Deus
nos chamou a participar do Evangelho,
por que diariamente ele nos concede bênçãos em grande profusão, por que ele nos
abre os portões celestiais, teremos sempre que retroceder a este princípio, ou
seja; que Deus nos elegeu antes que o mundo viesse à existência. O próprio
tempo da eleição revela que ela é gratuita; pois, o que poderíamos merecer, ou
em que consistiria o nosso mérito, antes que o mundo fosse criado? Pois quão
pueril é o raciocínio sofístico, o qual afirma que não fomos eleitos porque já
éramos dignos. Todos nós estávamos perdidos em Adão; portanto, Deus não poderia
ter-nos salvo de perecermos por meio de sua própria eleição, se não havia nada
para ser previsto. O mesmo argumento é usado em Romanos, onde, ao falar de Jacó
e Esaú, diz ele: “ E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o
bem ou mal” (Romanos 9:11).” [5]
Como a
Eleição e a Predestinação se completam , precisamos entender um pouco mais
sobre a Eleição :
1-
Seu Autor : O autor é “O Deus Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo” (Versículo 3). Certamente que isto de modo algum
invalida o fato de que todas as atividades que afetam as relações
extratrínitárias podem ser atribuídas ao Pai, Filho e Espírito Santo. Não
obstante, conforme demonstrado aqui, é o Pai que tem a liderança na obra Divina
da eleição.
2-
Sua Natureza: Embora a passagem mesma não indique
de forma definida a massa de objetos ou indivíduos dentre os quais o Pai elegeu
alguns, não obstante este imenso grupo fica definido claramente por meio da
clausula que denota propósito: “ para que fossemos santos e irrepreensíveis
perante ele”. Conseqüentemente, a imensa massa de indivíduos, dentre os quais o Pai elegeu alguns, é considerada
aqui como destituída de santidade e como sendo desprezível. Ele quer dizer:
nós, que somos completamente indignos aos seus olhos! Ele nem tenta explicar
como foi possível Deus fazer isto. Apenas compreende que quando os homens são
confrontados com a manifestação da espantosa graça divina, a única resposta
justificável é adoração, e não explicação.
3-
O seu objeto: O Objeto somos “nós”, não a
humanidade toda. O pronome “nós” deve ser entendido à luz do contexto.
Paulo está escrevendo “aos santos e crentes” (v.1). Ele diz que o pai
“nos” tem abençoado, isto é, “aos santos e crentes” (aqui com especial
referência aos de Êfeso), inclusive Paulo (v3). Portanto, quando o Apostolo
prossegue, dizendo: “assim como nos elegeu” este “nos” não pode ser
repentinamente referir-se a todos os homens sem distinção, senão que deve
referir-se necessariamente a todos aqueles que são (os que foram destinados
para que em algum tempo da história do mundo se tornassem) “santos e crentes”,
ou seja, a todos os que, tendo sido separados pelo Senhor com o propósito de
glorificá-lo, o abracem por meio de uma fé viva.
4-
Seu Fundamento: O fundamento da Igreja , de
sua plena salvação do princípio ao fim, conseqüentemente também de sua eleição,
é Cristo. Paulo diz: “Ele (‘o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo’) nos
elegeu nele”. A conexão entre os vv. 3 e 4 depende desta frase. Poderíamos
dizer esta idéia a lume com a seguinte tradução: “Deus o Pai nos abençoou com
toda benção espiritual em Cristo, assim como ele nos elegeu...” Em
outras palavras: no tempo o Pai nos abençoou em Cristo assim como nos elegeu
nele (em Cristo) desde toda eternidade.
5-
Seu tempo: Diz-se que esta eleição ocorreu “antes
da fundação do mundo”, ou seja, “desde a eternidade”. Além disso, uma vez
que ela ocorreu “nele” tudo se nos afigura de maneira razoável, porquanto Ele é
aquele cujo “precioso sangue, como de um Cordeiro sem defeito e sem mácula,
conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo...” ( I Pe 1:19,20).
6-
Seu Propósito: O propósito da eleição é encontrado
nas palavras para que fossemos santos e irrepreensíveis perante ele. É
digno de especial consideração que Paulo não diz: “O Pai nos elegeu
porque previu que iríamos ser santos”.
João Calvino comenta o versículo 5:
“Que nos Predestinou. O
que vem a seguir salienta ainda mais a sublimidade da Graça divina. Já
mencionamos a razão por que o Apóstolo inculcou tão energicamente nos efésios
Cristo e a adoção gratuita nele, bem como a eterna eleição que a precedeu. Como
a misericórdia de Deus, porém, em nenhum outro lugar é expressa de forma mais
sublime, esta passagem merece nossa especial atenção. Nesta cláusula são
mencionadas três causas de nossa salvação, e uma quarta é acrescentada logo a
seguir. A causa eficiente é o beneplácito da vontade de Deus; a causa material
é Cristo; e a causa final é o louvor de sua Graça. À primeira pertence todo
este contexto: Deus nos predestinou nele mesmo, segundo o beneplácito de sua
vontade, para adoção, e nos fez aceitos por meio de sua graça.
No
verbo predestinar devemos novamente atentar para a ordem. Nem mesmo existíamos,
portanto não existia nenhum mérito propriamente nosso. Conseqüentemente, a
causa de nossa salvação não procedeu de nós mesmos, e sim, tão somente de Deus.
Paulo , todavia ainda não satisfeito com essas afirmações, acrescenta: nele
mesmo. Com isso ele está dizendo que Deus não buscou uma causa fora de si
próprio, senão que nos predestinou porque ele assim o quis. O que se segue,
porém, é ainda mais claro: segundo o beneplácito de sua vontade. A
palavra vontade seria suficiente, pois
o apóstolo estava acostumado a contrastá-la com todas as causas externas
pelas quais o homem imagina que a mente de Deus é passível de receber
influência. Todavia, para que não permaneça qualquer ambigüidade, ele usa o
contraste “beneplácito”, o que expressamente exclui todo e qualquer
mérito.Portanto, ao adotar-nos, O Senhor não levou em conta o que somos, e não
nos reconciliou consigo mesmo com base em alguma dignidade que porventura
tivéssemos.
Finalmente,
a fim de que nada mais ficasse faltando, ele acrescenta: ecaritwsen en cariti. Com isso ele nos
afiança que Deus nos envolve graciosamente em seu amor e favor, não com base em
retribuição meritória, senão que Ele nos elegeu quando nem ainda tínhamos
nascido, quando nada o motivara senão ele próprio”.[6]
Uma definição
mais ampla da eleição, mostrando a forma que ela toma, se encontra nas
palavras: E em amor nos predestinou para a adoção de filhos. Esta predestinação
não deve ser considerada como uma atividade Divina anterior à Eleição. È
sinônimo desta última, uma elucidação adicional de seu propósito. O Pai é
descrito como tendo prefixado o
horizonte ou pré-circunscrito seus
eleitos. Em seu ilimitado amor, nada fora de si mesmo que o movesse, Ele o
separou para serem seus próprios filhos. “Como em redor de Jerusalém estão
montes, assim o Senhor em derredor de seu povo, desde agora e para sempre”
(Sl 125:2). Ele os destinou para que fossem membros de sua própria
família (Rm 8:15; Gl 4:5) é quase de balde sair em busca de analogias
humanas, por quanto a adoção de que Paulo fala vai além de qualquer ato humano.
Ela outorga aos seus recipientes não apenas um novo nome, um novo status legal
e uma nova relação familiar, mas também uma nova imagem, a imagem de Cristo (Rm
8:29). O pai terreno pode amar muito a um filho adotivo. Entretanto, eles
são incapazes de outorgar o seu espírito ao filho. Eles não têm controle sobre
os fatores hereditários. Quando Deus adota, Ele outorga o seu Espírito! Esta
adoção é por meio de Jesus Cristo para si mesmo.
Gostaria de encerrar essa monografia com as palavras de Spurgeon, o grande
pregador inglês:
“Penso que, para uma pessoa piedosa, a
eleição é a doutrina que mais humilha, de quantos há no mundo _ por afastar
toda confiança na carne, ou todo apoio em qualquer coisa, exceto Jesus Cristo.
Quantas vezes não nos revestimos de nossa justiça própria e nos enfeitamos com
as falsas pérolas e jóias de nossas obras e empreendimentos. Começamos a dizer,
Agora, sim, serei salvo, porque tenho esta e aquela evidência”. Em lugar disso,
é uma fé simples, desnuda, que salva. Somente essa fé nos une ao Cordeiro,
independentemente de obras, embora seja a fé o que produz tais obras. Quantas
vezes nos apoiamos em alguma obra, que não é a do nosso Amado, e confiamos em
algum poder, que não vem de cima. Se quisermos que tal poder nos seja tirado,
consideremos a eleição. Detém-te, ó minha alma, e considera isto. Deus te amou
antes que viesses a existir. Amou-te quando estavas morta em delitos e pecados,
e enviou seu Filho para morrer por ti. Comprou-te com o seu precioso sangue,
antes que pudesses balbuciar seu nome. Podes, pois, envaidecer-te com alguma
coisa?
“Não sei de nada que mais nos humilhe do
que esta doutrina da eleição. Algumas vezes, procurando entendê-la, tenho-me
prostrado diante dela. Tenho aberto as asas e à maneira das águias, tenho alcançado o voou na
direção ao sol. Meus olhos têm-se fixado nele, minhas asas não me têm falhado,
por certo tempo. Mas, ao aproximar-se dele, e, só pensando nisto_ “Desde o
principio Deus vos escolheu para a salvação” _ vir-me ofuscado pelo seu fulgor
e cambaleante sob a força desse poderoso pensamento. E dessa elevação
estonteante abateu-se a alma, a dizer prostrada e aniquilada, “Senhor, não sou
nada, sou menos que nada. Por que escolheste a mim? A mim?
Amigos,
se vocês querem ficar humildes, estudem a eleição, pois ela os fará assim, sob
a influência do Espírito Santo de Deus. Quem se orgulha de sua eleição, esse
não foi eleito. E que se humilha por considera-la, esse pode crer que foi
eleito. Têm toda a razão de crer que o foi, visto como um dos mais benditos
perante Deus”.[7]
4 -Conclusão
Eu creio que é bem mais
provável que um pecador creia e se arrependa, se a fé e o arrependimento
dependerem inteiramente do poder regenerador do Espírito Santo, do que se
dependerem em parte da força de vontade desse pecador.
A Doutrina da
Predestinação é totalmente bíblica, e o
fato dela apresentar a Deus como Soberano que salva somente seus eleitos, não
diminui Deus e nem traz nenhum mérito aos eleitos. A Graça de Deus é suficiente
para todos, mas não é eficiente em todos. Não sabemos qual foi o critério que
Deus utilizou para escolher pessoas, mas sabemos que Ele não encontrou nada de
bom neles.
É importante destacar que
nós não sabemos quem são os predestinados que Deus escolheu. Por isso, devemos
pregar o Evangelho a toda a criatura, pois cabe ao Espírito Santo convencer o
pecador e trazê-los para juntos de Deus.
Referências
Bibliográficas
FALCÃO, Rev. Samuel.
Predestinação Tese apresentada ao “ Union Theological Seminary”, Richmond, Va.,
E.U.A em abril de 1947. Editora casa Editora Presbiteriana
HENDRIKSEN, William.
Comentário do Novo Testamento Efésios, Trad. Valter Graciano Martins 1º edição
Ed. E.C.P
CALVINO, João , Comentário
de Efésios, Trad. Valter Graciano Martins 1º Edição Ed. Paracletos, 1998.
BROWN, Lothar C. Colin,
Dicionário Internacional de Teologia Do Novo Testamento, Vol 1,2 Trad. Gordon Chown Edit. Vida Nova.
2º edição 2004.
WWW. Monergismo.com.Br. Acessado dia 09/12/04 Predestinação
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