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quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Rebanho e as Suas Relações com o Seu Pastor


 João 10.1-6


1 Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. 2  Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. 3  Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora. 4  Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz; 5  mas de modo nenhum seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. 6  Jesus lhes propôs esta parábola, mas eles não compreenderam o sentido daquilo que lhes falava.

O evangelista João introduz um discurso de Jesus que ocupa grande parte deste cap. 10 do quarto Evangelho.

Há 2 partes neste discurso separadas pela observação do autor do Evangelho acerca da falta de capacidade dos ouvintes para entender as coisas que Jesus dizia:

Jo 10:6 – “Jesus lhes propôs esta parábola, mas eles não compreenderam o sentido daquilo que lhes falava”.

A primeira parte, dos versos 1 a 5, Jesus apresenta uma cena bastante familiar na Palestina, um quadro do pastoreio de ovelhas; (prevalece um estilo impessoal: “esse é o pastor” – diferente de “Eu sou o pastor”)
A segunda parte, dos versos 7 a 18, é uma aplicação a Jesus de 2 figuras que compuseram a primeira parte – a do pastor e a da porta – aplicação essa, feita pelo próprio Jesus. (prevalece um estilo pessoal: “Eu sou o bom pastor” e “eu sou a porta”; também “minha voz”, etc.)

É importante aqui que tenhamos 2 entendimentos muito claros:
1.                 Essa cena simbólica do quadro pastoril, como afirmou Xavier Léon-Dufour, está “enraizada no húmus bíblico”, isto é, reflete textos do Antigo Testamento nos quais a idéia de Deus como pastor está presente.

A primeira referência que encontramos no AT a esse respeito é o texto onde Jacó abençoa José dizendo:

“O seu arco, porém, permanece firme, e os seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e da madre” (Genesis 49:24-25)  
A imagem de Deus como pastor repercute no AT em 2 dimensões:

a.                 NA CONDUÇÃO DE ISRAEL COMO POVO:

Eis que o SENHOR Deus virá com poder, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa.  Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente.” (Isaías 40:10-11)



b.                 NA RELAÇÃO PESSOAL COM DEUS:

O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes.” (Salmo 23:1-2a)  

É comum nos anúncios proféticos do AT encontrar textos onde é expressa a ira de Deus sobre aqueles líderes que figuram maus pastores diante do povo e deixam o rebanho perder-se. Por isso, tudo parece concorrer e culminar no texto de Ezequiel 34, onde após uma dura palavra de condenação aos líderes do povo, há uma promessa da restauração do pastoreio divino:

Ezequiel 34:11-12  Porque assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei.  12 Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão”.

Ezequiel 34:23  Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor”.

Isso tudo talvez soasse para Israel de uma forma tão acolhedora e como uma reserva de esperanças que para nós não tem tanta força assim.
Para entender um pouco o coração, o sentimento do povo judaico na antiguidade, textos tais como os Salmos 95 e 100 podem nos ajudar:

Salmo 95:6-7  Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão”.

Salmo 100:3  Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio.
(repare que o cântico que entoamos em nossos dias, baseado neste salmo, nem menciona esta idéia de ser rebanho, justamente porque para nós essa imagem já não é tão forte!)

Isso nos leva a um segundo entendimento que precisamos ter...

2.                 Essa cena simbólica reflete com vivacidade natural a rotina dos pequenos produtores de ovelhas daquela região e compunha o cenário do dia-a-dia daqueles ouvintes.
 Todavia, para nós bem mais urbanizados, a cena não nos é tão familiar e corremos o risco de ceder a tentação de transpor tudo o que o texto diz para o pastoreio evangélico atual e isso, a meu ver, traz muito prejuízo à clara compreensão do texto! (Não deixa de ser muito bonita a ilustração para o pastorado atual)
Embora fosse o assunto familiar àqueles ouvintes de Jesus, a razão de Jesus em contar a história não foi compreendida! O que Ele pretendia com a história, o sentido da história não foi compreendido!

Talvez a intenção de Jesus fosse mesmo primeiramente chamar a atenção ao falar sobre um rebanho e suas relações com seu pastor, para depois ensinar o que está registrado nos versos de 7 a 18.
O que podemos extrair daqui? O que a história aqui contada  revela sobre Jesus?

1.                 Revela a Intenção de Jesus de que suas Ovelhas Tenham Intimidade com Ele (1-3)

Jo 10:1-3  Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador.  2 Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas.  3 Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora”.

Em primeiro lugar, o que Jesus diz no verso 1, chama a atenção para algo familiar de seus ouvintes e, sem dúvida, óbvio. Isto é, se alguém não entra pelas vias normais – pela porta, mas está tentando subir pela cerca em algum outro ponto do aprisco, há de se concluir que não é o dono ou o pastor daquele rebanho.
É difícil não associar essa violência descrita aqui daquele que tenta “pular a cerca” para invadir o aprisco e roubar o rebanho com a brutalidade dos fariseus que anteriormente foi descrita expulsando o ex-cego da sinagoga.
Embora ao que parece Jesus pretendeu com isso apresentar aos seus ouvintes a realidade de que existem estranhos rondando o rebanho de Deus e a reação que Ele espera do rebanho é o que será apresentado no verso 5, esse jeito de começar a história com o “errado” prepara o cenário para a entrada do “certo”!

v.2: Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas.

As luzes se acenderam sobre a porta... Os ouvintes precisavam reconhecer quem entrava pela porta!
Observe os detalhes:
·                    Para este o porteiro abre,
·                    as ovelhas ouvem a sua voz,
·                    ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas
·                    e as conduz para fora

Se quem estivesse ouvindo Jesus falar se entendesse como ovelha Dele, as portas precisavam ser abertas, os ouvidos precisavam estar atentos a Sua voz, seu nome precisaria ser conhecido por Ele e precisava ter uma atitude de deixar-se conduzir por Jesus!
Ou seja, uma relação de intimidade! Isso nos lembra Isaías 43.1-3:

“Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.  Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o SENHOR, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador”

2.                 Revela a Intenção de Jesus de que suas ovelhas tenham Confiança Nele (4)

4  “Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz;”

Preste atenção no verso 4:

Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem,
·                    vai adiante delas,
·                    e elas o seguem,
·                    porque lhe reconhecem a voz;

Carson comenta que “os pastores do Oriente Próximo, tanto agora como nos dias de Jesus, vão na frente de suas ovelhas, chamando-as com sua voz, de forma distinta da dos pastores ocidentais que vão tocando as ovelhas, freqüentemente usando um cão pastor”.
Os pastos da Palestina tinham lugares muito perigosos para as ovelhas, muitas pedras, espinheiros e precipícios... Era fundamental ter o pastor adiante das ovelhas. Só ele sabia o caminho dos pastos verdejantes...

Ovelhas são por natureza frágeis, dependentes, com um faro muito ruim (que as faz comer plantas venenosas) e, dizem, conseguem distinguir a voz do seu pastor e se sentem seguras se ele está por perto.

Salmo 23:1-4  O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará.  2 Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso;  3 refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.  4 Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam”.

Além de buscar ter intimidade com Ele, Jesus deseja que você  o siga! Ele vai adiante de você, você precisa reconhecer a voz Dele e confiar que somente ele sabe o caminho e os melhores atalhos pra se chegar aos melhores pastos.

3.                 Revela a Intenção de Jesus de que Suas Ovelhas Fujam dos Estranhos

Jo 10:5  “...mas de modo nenhum seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.”

Dizem que a ovelha não sabe se defender; se ela se sente ameaçada, a reação dela é fugir...
Jesus está lembrando, através da história, que ovelhas só seguem a voz do seu pastor, nunca a de um estranho. E diante de uma voz estranha, elas fogem!
Falando sobre o fim dos tempos, Jesus advertiu conforme o registro de Marcos:

Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos.” (13:21-22)

Paulo alertou Timóteo dizendo:

2Tm 3:1-5  Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,  2 pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,  3 desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,  4 traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,  5 tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes”.   

E ainda João advertiu:

2Jo 1:9-11  Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho.  10 Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.  11 Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más”.

A expectativa de Jesus era e é que seus discípulos, suas ovelhas não só busquem INTIMIDADE COM ELE e tenham CONFIANÇA NELE a ponto de seguir para onde for, mas também que tenham DISCERNIMENTO a ponto de fugirem dos estranhos...

Vivemos um tempo de ingenuidade estridente! Tudo é bom aos olhos dos crentes, tudo é comível, tudo é assimilável e até praticável!
Deixe Jesus ser o seu pastor! Tenha intimidade com Ele, siga-o confiantemente e fuja de tudo que é estranho àquilo que Ele nos tem ensinado!

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